Como os direitos que existem surgiram? De outra forma: os direitos que você goza vieram de onde? Direitos são conquistas e não presentes. A tradição política brasileira, muito bem trabalhado por autores importantes como Florestan Fernandes e José Murilo de Carvalho (nas obras Revolução Burguesa no Brasil e Cidadania no Brasil, respectivamente), é marcada pelo clientelismo e paternalismo, situações em que o Estado se coloca como o grande Pai a afagar e castigar seus filhos – os “cidadãos”, como a mesma mão. Assim, os direitos pareceram sempre caídos do céu e/ou dados por um estadista que é “bom para o povo”.
Direitos das domésticos: luta sempre!O fato é que os direitos, particularmente os sociais, são resultantes de luta, mesmo quando parecer que o Estado está simplesmente provendo. A questão é que além de termos essa nefasta visão do jogo dos direitos, é comum levantarmos “pseudos-problemas” em relação a determinadas vitórias quando são das classes menos favorecidas. É o caso dos direitos dos domésticos que tiveram sua profissão recém-regulada.
Como a relação entre patrões e empregados passa a ser regulada e não mais está a mercê da boa vontade dos “bons patrões” que se acham “bons cristãos” porque até sabonete dove dão para seus empregados, embora os façam levantar de madrugada para fazer um chazinho para curar a insônia, surge o discurso de que os domésticos irão se arrepender de mexer no “ciclo natural das coisas”.
De repente, todo mundo passa a ter uma alteridade exacerbada, uma preocupação enorme com esses “coitados” que, “Senhor, não sabem o que fazem!”. Lembro-me de uma cena do filme Bee Movie em que uma abelha ao perceber que trabalha excessivamente porque os humanos se apropriam do seu mel, resolve processar a humanidade. Tendo ganho o processo, o resultado mostrado no filme é o caos e em dado momento um personagem diz: “você se arrependerá de tentar modificar o equilíbrio natural das coisas”.
Assim, pinta-se o novo cenário para os domésticos após terem sua profissão regulamentada: “muitos perderão o emprego!”, dizem. Não nego acreditar que isso pode ocorrer, mas tenho certeza que isso é parte de um novo formato de uma relação historicamente marcada por elementos mantidos da escravidão. Ajustes deverão ocorrer, mas os domésticos devem ter a certeza de que a luta não terminou, mas sim teve apenas um importantíssimo capítulo encerrado e que agora a luta se modifica. “Direitos conquistados”, agora é hora de transformar a lei em prática, modificando as macro e micros práticas cotidianas em torno dessa profissão.
Esse comentário me veio a mente ao ler o excelente artigo de um articulista do yahoo que gosto muito, Walter Hupsel, disponível neste link: http://br.noticias.yahoo.com/blogs/on-the-rocks/maria-traga-um-copo-d-%C3%A1gua-230747291.html.
Fiquemos atento, afinal a luta, SEMPRE, continua!
Aleksandra Previtalli disse:
Adorei o texto meu amigo….é isso mesmo! Concordo com você em gênero, número e grau. 😉
radamesrogerio disse:
Que bom que você gostou querida Aleksandra. Vamos combater essas ideologias. Será um prazer tê-la como leitora de meu blog. Às vezes quando as coisas ficam muito aperreadas fico um tempo sem atualizar, mas você tentando manter atualizado. Grande abraço, divulga o blog.
15tiago15 disse:
vejo que a questão sempre será o que estamos fazendo com os nossos direitos e como estamos lutando para que isso aconteça de verdade, eu já vi muitas brigas no sindicato dos metalúrgicos em sp, por apenas alguns reais, mas a principal luta nunca aconteceu que era pelo respeito dos chefões, mas tudo tem um começo, com você disse professor a luta continua e sempre continuará! e lutamos sempre pelo o que é melhor para nossa sociedade! Muito obrigado!
radamesrogerio disse:
Tens razão Tiago. Muitas vezes o foco é extremamente restrito, mas às vezes ocorre que as outras reivindicações são ofuscadas pela questão salarial, como ocorreu aqui em Oeiras na greve dos professores. Os alunos só ressaltavam a reivindicação salarial, quando a questão salarial era a menor de nossas lutas, embora seja algo importante. Obrigado pela interlocução por aqui.